Secção AIT-SP - Lisboa, comunicados, Greve Geral, repressão
No dia 14 de Novembro, na maior manifestação em dia de greve geral, os chefes da polícia, o ministro da administração interna e outros políticos tentaram justificar a carga policial sobre os manifestantes em São Bento, dizendo que as "forças de segurança" tinham sido muito tolerantes porque durante mais de uma hora “com serenidade e firmeza” levaram com pedras e garrafas atiradas por “meia dúzia de profissionais da provocação”.
Houve várias pessoas a atirar pedras e outros objectos ao cordão policial que defendia o Parlamento e não só eram bem mais do que meia dúzia, como muitos outros permaneceram por ali bastante tempo, sem arredar pé.
Também é verdade que houve uma carga violentíssima sobre os manifestantes, homens, mulheres, idosos, crianças, tudo o que se mexia foi varrido, atirado ao chão, ameaçado com gritos e balas de borracha. Houve ainda uma perseguição por várias ruas, onde se prenderam pessoas indiscriminadamente. Dezenas de pessoas foram identificadas sem saberem porquê. Nas esquadras não lhes foi dada a possibilidade de falar com um advogado, ir ao wc ou até de receber assistência médica.
Sobre a repressão policial temos apenas a dizer o seguinte: violência não é atirar pedras contra o corpo de intervenção, protegido com os seus fatos especiais, capacetes, escudos, cassetetes e armas. Violência não é a revolta de quem trabalha e não tem dinheiro suficiente para viver, de quem nem trabalho tem e desespera à procura, de quem passa fome, dos idosos que vêem as suas pensões reduzidas, de quem não explora ninguém e vive uma vida inteira a ser explorado pelos mesmos de sempre: políticos, banqueiros e empresários. Violência não é atacar a polícia quando esta defende o sistema ao qual pertence: o Estado, esse mesmo Estado que concedeu um aumento salarial de 10% para as forças de intervenção enquanto milhares de pessoas vivem em pobreza e outros para lá caminham.
Violência não é gritar palavrões contra os agentes policiais quando eles escolheram estar ali, especialmente os do corpo de intervenção. A polícia só existe para manter a ordem pública. E manter a ordem pública não é mais que evitar quaisquer acções que possam perturbar o sono dos ricos e poderosos.
Para nós violência é passar fome. Violência é 561 postos de trabalho serem destruídos todos os dias e 500 mil pessoas não terem qualquer apoio social. Violência é os 25 mais ricos de Portugal crescerem 17,8% em 2011 face ao ano anterior. Violência é passar toda a vida a trabalhar por um salário, apenas para sobreviver. Violência é ter de cumprir ordens sem nunca podermos ser nós a decidir como queremos viver. Violência são os ataques diários da polícia nos bairros sociais, violência é a detenção de imigrantes que procuram uma vida melhor, violência é prender pessoas por roubar algo para comer, violência é não poderes ir por ali porque está a Merkel a passar, não poderes ir por acolá porque é o parlamento onde se encontram seguros os governantes, não poderes passar porque simplesmente os polícias te gritam que tens de te ir embora se não queres levar um tiro. Violência foi a morte à queima roupa do Kuku na Amadora, os ataques da polícia contra os piquetes de greve, as balas de borracha numa manifestação no 1º de Maio em Setúbal, a carga brutal ontem em São Bento como em tantas outras situações. Que se desiludam aqueles que pensam que são as “pedradas” que causam alguma coisa, a violência policial em manifestações é uma constante, sobretudo se não houver televisões por perto a filmar.
A violência policial é a violência ordenada pelo sistema em que vivemos, em que uns têm tudo e outros sofrem na miséria. É a violência do Estado e do Capital. É a violência que irá crescer aqui em Portugal e em todos os lugares onde os governantes e os ricos tenham medo da revolta dos pobres.
Mas eles que não se esqueçam que não nos podem matar a todos. Não nos podem prender a todos. Haverá sempre quem resista. Quem volte. Com pedras ou sem pedras, haverá sempre quem lute contra os polícias armados, pois onde houver luta pela justiça e igualdade, haverá sempre cães de guarda a defender o dono.
Levamos um mundo novo nos nossos corações, e os golpes que nos desferem só nos fazem acreditar mais na justeza dos ideais e das formas de luta que defendemos.
Contra a repressão, solidariedade! Contra a exploração, acção directa!
Unidos e auto-organizados, nós damos-lhes a crise!
16/11/2012
Associação Internacional dos Trabalhadores - Secção Portuguesa
Núcleo de Lisboa
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