Tradução do artigo publicado na Revista espanhola @darga
, nº 2 -Outubro 2013
Entrevista a militantes do
SOV de Madrid : Pela boca não morre o peixe
É um sindicato, mas não é um
sindicato igual aos outros. É mais que um sindicato, é um anarcosindicato, pois
não abandonou as ideias anarquistas. Estas inspiram-no porque pretende
transformar a sociedade que o rodeia
rumo ao comunismo libertário. É um sindicato que apoia as redes autogeridas,
igualitárias e transformadoras. Enfim, um sindicato como muitos outros que
existem na CNT, e que perseguem a mesma finalidade. Abordamos alguns militantes
deste sindicato, que embora não sejam representantes de ninguém, a não ser
deles próprios, cremos que refletem, em termos gerais, o sentimento do seu
sindicato bem como o de aqueles militantes e sindicatos que consideram que os
princípios, táticas e finalidades, que sempre animaram a Confederação, não são
um mero escaparate, montra ou spot
publicitário.
Ainda que vocês não sejam representantes do SOV , podem nos explicar , de
uma forma breve e geral , a situação atual do sindicato ?
Podemos constatar o aumento de
novos filiados que assumem responsabilidades. Atualmente, o sindicato procura que
esses filiados se mantenham, que tenham informação e conhecimento suficiente da
organização para que possam assumir responsabilidades. Existem diversas secções
sindicais tanto de ramo como de empresa . Destaca – se a secção de informática
que se prepara já para formar um sindicato. Detém à volta de 60 filiados e está
a trabalhar muito bem no setor; criando secções de empresa, assembleias
regulares, edição e difusão própria de propaganda. Outras secções como a saúde
,o meio ambiente e a limpeza funcionam de forma continuada o que permite perspetivar
o seu crescimento .
O sindicato desenvolve grande atividade
em várias áreas como : propaganda, comunicação, solidariedade a nível
confederal, consumo e autogestão etc. No que respeita à acção sindical, esta
depende muito dos conflitos que se tenham aberto com as empresas . Por vezes
encontramo – nos a transbordar de atividade, outras estamos mais tranquilos,
porém de uma maneira ou de outra há sempre trabalho a desenvolver. Realizamos
assembleias semanais, o comité do sindicato reúne-se também semanalmente. A verdade
é que se nos depara muito trabalho pela frente. Após o golpe que significou para
nós o último congresso, em que não foram aprovadas as teses ou teorias que
pensávamos que deveriam ser coerentes com a trajetória da organização, o
sindicato fechou-se um pouco em si próprio, nota-se uma menor participação na
vida orgânica da Confederação. Porém, isto não refreou as atividades próprias do
sindicato ; criação de secções sindicais , formação dos militantes , e isto
aplicando o critério que já tínhamos antes do congresso, de que o
anarcosindicalismo não se pode limitar a gerir a relação laboral. Para nós a
CNT, a ferramenta CNT , não é um fim em si mesmo, mas um meio para alcançar e
realizar o comunismo libertário e é
neste sentido que vemos a CNT como algo mais, que ultrapassa o mero
envolvimento nas questões laborais. Por isso estamos a apostar e aprofundar os
temas do consumo, autogestão ou coletividades de produção e consumo, com uma horta funcionando
há vários anos, ou um grupo de consumo com 50 membros e uma quinzena de
fornecedores em autogestão.
Muitos companheiros participam
nas redes de autogestão motivados sobretudo pela visão anarquista destas redes.
De certo modo ajudamos a criar redes que sejam realmente transformadoras e que
não permaneçam apenas numa situação de auto-emprego. Um grupo de 30 pessoas
cultivam a horta do SOV que mudou de lugar e assumiu também um novo projeto.
Existia um centro de recuperação da Comunidade de Madrid, um centro ao ar livre
para toxicodependentes aos quais foram retirados os subsídios. Eles decidiram
ocupar o Centro e nós apoiamo-los. Apoiamos também o grupo de imigração de
Lavapiés que está a aprender a auto – organizar-se .
Qual é o grau de envolvimento dos filiados ?
A relação filiados - militantes é
elevada. Muitas das pessoas que se aproximam de nós envolvem-se no trabalho do
dia a dia. Neste momento a nossa maior preocupação é assegurar a integração e a
formação dos que chegam de novo. Cremos que é aqui que reside a chave para o
crescimento dos sindicatos da CNT. Por um lado a atividade sindical e social ,
por outro a integração e a formação dos que chegam de novo. O desafio consiste
em conseguir que todo aquele que chega tenha algo para fazer e , além disso que esse trabalho o motive e o entusiasme. Um
aspeto importante é que o Oficíos Vários não é homogéneo, ainda que haja
sindicatos que pensam que o Oficíos Vários tem uma linha demarcada. Nas
assembleias defendem-se livremente todo o tipo de posições.
Quantas secções sindicais tem actualmente o SOV , e em que setores ?
Funcionam à volta de 10 secções
práticamente em todos os setores. As secções mais ativas são as de hotelaria,
telemarketing e informática, setor público, limpeza e saúde.
Nós procuramos que as secções
sejam criadas únicamente quando há alguma garantia de que é possível
desenvolver um trabalho e, quando acima de tudo, se tem confiança nos
companheiros da secção que préviamente trabalharam um pouco na acção sindical,
que conhecem os acordos da organização, o seu funcionamento etc. Esta é a nossa
forma de encarar o trabalho sindical nas empresas. Não criamos uma secção
sindical em torno de uma única reivindicação laboral , mas sim tentamos implantar
realmente uma secção da CNT que funcione realmente e que leve a CNT à empresa.
Verificamos que noutros sindicatos
as secções sindicais funcionam práticamente à margem do sindicato. Gostariamos
de saber que vínculo e que relação mantêm aqui as secções com o sindicato , como é que sindicato assegura esse vínculo e
como se desenvolve o trabalho a partir da assembleia.
Vemos este problema e a primeira
medida que adotamos para que ele não ocorra , prende-se com a forma de criar as
secções. Tentamos que sejam companheiros que tenham um compromisso com o
sindicato, não se trata de ser militante
reconhecido de anos e anos ,mas sim que
no decurso da sua filiação se tenham envolvido e comprometido; além disso uma
das funções da secretaria da acção sindical é contactar e manter uma relação
contínua com as secções sindicais .Para nós sempre foi evidente que uma secção
sindical que esteja separada do sindicato tende naturalmente para um certo
corporativismo. Nós sempre fomos contra o corporativismo , e consequentemente
sempre foi claro para nós que o sindicato é o elemento organizativo e a secção
sindical é uma das suas vozes.
Ainda que no último congresso se tenha reforçado a ideia de que o sindicato
é o núcleo fundamental da organização
constata-se porém ,uma tendência cada vez mais acentuada da absoluta
autonomia das secções em relação ao sindicato. Apenas existe contacto entre o
sindicato e a secção e por outro lado nada se faz para corrigir esta tendência
premiando-se até por vezes ,esta fratura . Como é que o SOV manifesta esta
situação perante a organização afim de a modificar ou pelo menos para que ela seja
apresentada e discutida ?
Bom , a resposta é complicada. É
óbvio que a partir do último congresso, ficou claro que existem duas vias ou
duas maneiras de ver o sindicato . A via , a qual poderíamos designar de oficial ( para a chamarmos de
alguma coisa ) inclina-se para o lado sindical pondo de lado a parte anarquista
é o que se passa com as secções sindicais que são disso um resultado natural.
Se tu pões de lado a ideologia anarquista resta apenas o sindicalismo puro e
duro e, que aliás como já se viu,
transforma o sindicato num assessor laboral. A experiência já nos
demonstrou de forma evidente que as secções que limitam a sua atividade ao
conflito com a empresa acabam por desaparecer. Podemos referir secções como as
da Mercadona , onde se criou e se manteve uma secção sindical enquanto durou o
conflito, mas após o fim deste a secção desapareceu. Por isso na nossa
perspetiva não se trata apenas de criar secções sindicais mas também de
fortalecer o sindicato. As secções sindicais que se limitam a tratar de um
problema laboral pontual não vão a lado nenhum. Pelo contrário, quando os
companheiros compreendem a necessidade de uma organização que vá mais além dos
problemas da sua empresa e do seu setor, então sim as secções têm futuro. Não
acreditamos que ter uma lista numerosa de secções vazias de militantes, mas com
quotizações bancárias seja benéfico para o que deve ser a contribuição da
organização ao movimento operário ou ao problema de classe. E a sua
contribuição deve ser precisamente lutar contra o corporativismo, a verticalização e desmascarar aquilo que se apresenta como
alternativo e que não passa de renovador. Acabar com toda a demagogia que existe
à volta da representatividade e construir realmente organizações sólidas só
será possível com secções que se assumam como anarcosindicalistas, e não o
contrário.
No contexto das duas vias ou
tendências que referistes existir no interior da organização, como encarais o
funcionamento da Federação Local de Madrid , e qual é a situação em que se
encontra ?
A Federação Local de Madrid encontra-se na mesma situação que a
CNT: uma parte defende que o mais importante são os nossos princípios, táticas
e finalidades, ou seja o conteúdo das nossas ideias e outra parte valoriza mais
esse sindicalismo já referido e procura o crescimento ou o alargamento a todo o
custo. Então a diferença que existe na
Federação Local de Madrid é que nesta a opção que defende um ponto de vista
anarco-sindicalista de conteúdos e não de mera imagem é a maioritária.
Inevitávelmente isto gera muitas situações insuportáveis no seio da FL com as
quais é difícil conviver.Contudo, já nos consciencializamos há muito tempo, e a
partir do congresso ainda mais, que isto é uma corrida de fundo e que apenas uma
militância diária acompanhada de uma formação anarco-sindicalista dos militantes
é que poderá transformar a
situação actual na CNT de forma a reconduzi-la ao seu leito original ; a
procura da revolução social.
A partir do exterior de Madrid constata-se a existência de um conflito, por
exemplo no 1º de Maio do ano passado a CNT realizou duas manifestações
separadas com dois trajetos diferentes .
Estando de fora percebe-se essa divisão, por isso gostaríamos de conhecer de
forma mais aprofundada esta situação. Como é que essa divisão é encarada na
cidade e pelo resto da organização ?
Constatamos que no interior da
organização se verifica uma criminilização do nosso sindicato. Decorrente disso
gerou-se uma “opinião pública ”de que em Madrid o setor anarco-sindicalista não
aceita os acordos , boicota as manifestações etc. Esta ideia há que desmenti-la
redondamente. Em Madrid, os companheiros reconhecem-se com capacidade para ter
uma expressão própria. Essa expressão é que conduz a que as pessoas da FL de
Madrid, quando se aproxima uma greve geral ou quando há uma mobilização, tenham
capacidade e possam convocar por si próprias as acções a desenvolver. Existem outros
companheiros que não aceitam este acordo e
se submetem a outros acordos de outros âmbitos nacionais. Nós não
estamos contra o facto de que numa localidade se possa chegar a um acordo de
participar pontualmente numa mobilização conjunta. O que acontece é que em
Madrid temos capacidade de mobilização assim como temos capacidade para
denunciar as plataformas que se criam. Estas plataformas entram no jogo do
marketing politico mais preocupadas com o número das pessoas mobilizadas do que
com uma efetiva organização. A prova evidente de que esta linha de atuação não está
a funcionar para a organização, é que todas essas mobilizações, todos esses
grandes títulos que se forjam com técnicas jornalísticas não geram filiação nem
militância. Acabam por ser sol de pouca dura.
Ainda no contexto da divisão na CNT,
desde o congresso de Córdova que ela é
patente . Divisão essa que provocou uma grande apatia na Confederação. À parte
da grande atividade do SOV como encarais esta apatia?
Constatamos realmente uma apatia
na organização, em muitos sindicatos e em muitos companheiros. Existe uma
apatia orgânica, as pessoas deste sindicato que estiveram no congresso
regressaram desmoralizadas e isso contribuíu para que o sindicato se
desmoralizasse. Atualmente a situação é contrária à apatia. Nós estamos aqui
porque decidimos dedicar a nossa vida a isto, para nós estes são os nossos
ideais, esta é a nossa vida e não queremos lutar por outra coisa. No dia em que
a CNT for um lugar onde não se possa estar porque as contradições são profundas,
então sairemos e trilharemos um novo caminho, tal como fizeram os anarquistas
no passado.
Hoje decidimos prosseguir com o
desejo e o entusiasmo, não mais acentuado, de fazer brilhar novamente as ideias
anarquistas no interior da organização, e isto motiva -nos imenso. Por esta
razão apostamos no crescimento, na formação das pessoas e na divulgação das
nossas ideias por toda a parte , e é
isto que nos dá ânimo.
Consagra-se o congresso ao aumento da filiação e para isso rebaixa-se o anarquismo
na CNT. Todavia esse crescimento exponencial
não se produziu, bem pelo contrário, intuí-se uma tendência de
diminuição de filiados. Qual é a vossa opinião acerca desta situação?
O que acontece é que a estratégia
daqueles que apoiaram e apoiam as teses de crescimento a todo o preço aprovadas
no congresso, passa por incrementar a imagem para o exterior, aumenta a
visibilidade da organização e para isso é necessário aproximarem-se daquelas posições
que são mais apresentáveis para o conjunto da população, independentemente da
ideologia da organização. Se bem que seja certo que te tenhas que dirigir ao
conjunto da população também é certo que esta é uma organização que requer um
tipo de pessoas, que pelo menos se envolvam nela. Vivemos numa sociedade que delega tudo. A incorporação de militantes
e filiados produz-se por meio do envolvimento e este é ideológico. Ao tempo que
estamos na organização, já vimos entrar e sair muitos companheiros , e o que
constatamos é que as pessoas que se fizeram militantes, ou porque se filiaram
por uma questão ideológica ou porque se foram impregnando da ideologia ao longo
do tempo, são aquelas que permanecem e desenvolvem o trabalho no sindicato. Os
filiados que não foram formados , aqueles que vêm para que se lhes resolva o
seu problema, aqueles que pagam as quotas e não participam na vida do sindicato
podem permanecer x anos , mas acabam por partir. O que assegura a abertura do
sindicato dia a dia e a participação nos piquetes é esta linha de trabalho que
incide na ideologia, e é esta que faz com que os militantes se envolvam e se comprometam.
Como é possível que não haja uma grande resposta face aos resultados do
último congresso? É verdade que se demora tempo a fazer militantes , mas a CNT não tinha já
militantes ? As pessoas estão adormecidas , ou é a maioria da CNT que pretende
seguir este novo caminho?
A CNT entrou numa dinâmica
vertical e centralizadora ainda não
concluída, mas caminha para tal. O que se passa nas organizações verticais é
que existem grupos pequenos e são estes os detentores da verdade. Isto conduz a
que não haja debate no interior da CNT. Se eu, que sou o que manda aqui, me
enganar procurarei que o fracasso seja o fracasso do outro, se o projeto da
maioria do congresso não se desenvolve é porque a minoria não o apoia. Assim
procuram-se desculpas, bodes expiatórios, mas esta maioria não será capaz de avançar com o seu próprio
projeto?
Mencionasteis que há uma atitude de criminilização em relação a alguns sindicatos e em relação a algumas atitudes, há uma espécie de estigmatização
por serem expressadas ou mostradas. Um exemplo paradigmático disso, foi
mencionado num artigo desta revista ; a perseguição deste sindicato porque numa
manifestação alguns dos seus militantes gritaram : Reformistas fora da
organização! Como encarais esta acusação? É real , é um exagero ou é uma
simples anedota? Gostaria que nos falassem disso.
Se te referes ao que ocorreu na
manifestação de 29 de setembro, aonde se gritou: “reformistas fora da organização”, foi um destes
atos que conduziram à nossa criminilização, dizendo que boicotamos de facto ,o
já mencionado. Nessa manifestação não esteve só presente o SOV de Madrid já que
essa manifestação resultou de um acordo da FL de Madrid, e não se gritou apenas
essa palavra de ordem . Isolou-se e publicitou-se essa palavra de ordem para
que tudo ficasse resumido a isso !?, aí dissemos o que a CNT disse e
protestamos contra as subvenções, os comités de empresa , os funcionários porque
acreditamos que é esse o posicionamento da organização e que deve ser
difundido. Aí falou-se do boicote quando realmente ele não existiu. Boicote é
quando a FL de Madrid convoca uma acção e outro sindicato da FL de Madrid
convoca outra acção à mesma hora e noutro local. Isso é que é um boicote. Bom ,
isso foi um fato concreto, mas a criminilização do Sov de Madrid como de outros
sindicatos: Candas, Levante, Zamora, Metal Madrid, Granada e muitos outros, foi
o que se passou muito tempo com Cádiz, já ocorria antes do Congresso. No caso
do Sov de Madrid, a situação vem-se agravando porque este mantém uma posição diferente aos acordos
oficiais da organização, e uma vez que esta é a capital do estado, com toda a
significação que isso envolve, causa-lhe maiores problemas. Também acredito que
essa criminilização se produz para cegar, para esconder o fato de que o nosso
sindicato funçiona e funciona bem, tem atividade, tem filiados , tem bons
resultados. Somos a negação das suas teses e em vez de nos rebaterem no campo
ideológico o que fazem é apelidar- nos de boicotadores e que não fazemos nada a
não ser chatear e impecilhar.
Há uma outra questão que afetou bastante o vosso sindicato e que diz
respeito à Marsans. Não queremos que nos expliqueis toda a problemática do caso
, mas apenas o tratamento de que fosteis
alvo em relação ao ERE *, em comparação com o tratamento do Sindicato de
Transportes de Madrid e o conflito na Iberia .
A verdade é que não soubemos explicar
a situação. O que aconteceu nas viagens Marsans foi muito delicado, uma
assembleia de trabalhadores rompeu a representatividade do comité de empresa impondo
que a secção sindical da CNT estivesse na mesa das negociações. Outro assunto é
o que respeita ao contexto de uma empresa em falência. Naquele momento estava
em vigor o 8º congresso, que propunha em caso de falência da empresa a
autogestão da mesma. Esta foi a parte que os companheiros de Marsans não
conseguiram cumprir porque permaneciam 2000 trabalhadores e uma folha de
pagamentos de 3 milhões e meio ao mês, e esta situação não é passível de ser
autogerida. A empresa estava completamente falida, tinha 500 milhões de divída.
Como era possível que num setor de empresa de 2000 pessoas todos tivessem a consciência de que a empresa
não existia, que não tinha crédito em parte alguma e que não produzia nada ?? A
única alternativa que restava era alterar o panorama, os trabalhadores passarem
a ser os credores. O ser credor permite fiscalizar todo o processo de
liquidação da empresa. Os trabalhadores constituíram uma associação de 900
membros, que atualmente está representada , não apenas nos 4 concursos da
empresa mas também na audiência nacional onde estão a fazer um inventário das
fraudes e ilícitos que a empresa possa ter e que se saldou por mostrar uma
saída que permitiu a perseguição, acusação e criminilização do empresário Diaz
Ferrán e a manutenção da união dos trabalhadores. Ali não se vendiam postos de
trabalho porque não havia nenhum. Apenas se registou a denúncia por parte de um
dos 2000 trabalhadores , que se opôs ao ERE por uma razão; era o diretor
económico e financeiro que cobrava 400.000 € de salário anual mais incentivos,
e que perdia dinheiro porque o ERE tinha um teto máximo de 70.000 € para
retirar indeminizações aos executivos e atribuí-los ás classes baixas. Esse foi
o único trabalhador discordante a par de 3 membros do comité de empresa que,
contra a lei, nos recusamos a aceitar que gerissem as formas de liquidação, em
lugar dos trabalhadores que habitualmente se ocupavam disso.
*Nota da tradutora : ERE (Expediente
de Regulação do Emprego): é um procedimento contemplado na atual legislação
laboral espanhola , mediante o qual uma empresa, supostamente em má situação
económica procura obter autorização para suspender ou despedir trabalhadores.
Tem como finalidade obter da Autoridade Laboral competente uma autorização para
suspender ou extinguir as relações laborais num quadro em que se garantam os
direitos dos trabalhadores. Pode ser solicitada tanto pelas empresa como pelos
trabalhadores nas circunstâncias previstas na lei.
Não te
questionava tanto sobre o desenvolvimento do conflito senão pelas comparações e
as justificações por um lado, e a não
aceitação das explicações por outro.
O assunto da ERE de Marsans é
provavelmente a maior manobra politica que ocorreu nesta organização nos
últimos anos. Sabiam que não havia outra solução e sabiam qual o desfecho do conflito.
O aspeto mais relevante é que não se pode reconhecer que um setor de empresa de
2000 trabalhadores apoiava uma secção da CNT , de um sindicato que não era da
sua linha e rompia a representatividade de um comité de empresa demonstrando
que não é necessário estar em comités de empresa para ter presença e atividade
sindical. Não podemos esquecer que o caso Marsans ocorreu antes do congresso e
estes sindicatos viram uma oportunidade
claríssima para levar a cabo uma
campanha fácil porque as siglas ERE mudariam a organização sem aprofundar a questão criando
assim a oportunidade de desacreditar o
Sov de Madrid frente ao décimo congresso e face à defesa das suas propostas .
Como encarais em Madrid a comparação com o assunto Iberia? O tema da
Marsans enquadrais-o como estratégia politica e no caso da Iberia a realidade é
outra .Como os perspectivais ?
O caso Iberia não originou nenhum
problema. Nós assinalamos no momento próprio que se convocava uma greve para
pedir uma baixa incentivada, na medida em que ao se subscrever a plataforma
conjunta que se formou na Iberia, incluía-se a aplicação de um ERE de *baixas
incentivadas . Para nós era claro que a situação criada na CNT pelo caso
Marsans foi originado por um fato politico e por conveniências politicas
internas da CNT. Nessa linha entendemos que quando posteriormente se produz uma
situação similar no caso do Sindicato dos Transportes, essa componente politica
não só não está presente mas também não interessa que esteja, pois procura-se
fazer o contrário que é escondê-lo ou apoiá-lo a partir do Gabinete Técnico.
Neste caso é um expediente de crise e não um encerramento de empresa. Tratavam-se
de acordos para melhorar o rol de resultados de uma empresa e em relação ao
qual teríamos que nos opôr. A Iberia não vai desaparecer, vai trazer beneficíos.
A Iberia chegou a um acordo com os seus trabalhadores para dar uma baixa
incentivada, afim de se manter o posto de trabalho amortizado e aqui paz e
glória.
*Nota da tradutora: Baixas
incentivadas – o trabalhador rescinde voluntáriamente o seu contrato de
trabalho; negoceia com a empresa o seu auto despedimento.
Já que mencionasteis o Gabinete Técnico Confederal, qual é a vossa opinião
acerca da sua criação e as consequências deste para a Confederação?
A criação do GTC é mais uma prova
das tendências centralizadoras e tecnocratas que actuam no seio da CNT. Não
achamos que seja positiva essa centralização nem a preponderância que assumem
assim as questões técnicas num organismo criado para o efeito. A nossa opinião
é que a sua criação contradiz o principío básico de autogestão e acção direta.
Por um lado porque os sindicatos e as secções não gerem os seus conflitos mas delegam
essa gestão ao gabinete. Por outro porque a organização ao dedicar a maior parte
dos seus recursos a um gabinete basicamente legal e ao reduzir o fundo
pro-presos à previsão da repressão ,
está na prática a dar primazia á via judicial em detrimento da acção direta que é desta que derivam as sanções
repressivas. É de salientar também que a fórmula que esteve na base da sua criação
permite que não haja um necessário controlo do gabinete pela organização, como
acontece com os cargos de gestão ficando também isento da rotatividade dos
cargos. Com isto não queremos dizer que os militantes da CNT devam ignorar as
questões legais ou jurídicas que decorrem de um conflito. Devem ser tidas em
conta a par do ânimo da secção da
capacidade de mobilização, outros interesses dos empresários etc. O
mesmo se passa no que respeita á formação. Nós achamos que ela é necessária mas
não se pode limitar a reciclar modelos de cursos técnicos de empresas ou
universidades. Preferimos uma formação assente na troca de experiências,
incentivo aos conhecimentos históricos, fomentar o esforço na formação pessoal
de cada um…quer dizer algo mais que o conceito “ formador de formadores “ que
apenas centraliza e unifica interpretações subjectivas e elimina a capacidade criativa de cada
sindicato regional.
Por último, como vislumbrais o futuro da organização ?
Pensamos que o maior problema que
tem a CNT , e que compromete o seu crescimento e projecção , é o seu conflito
interno. Ao fim e ao cabo podemos afirmar que são cada vez mais os
coletivos e as pessoas que tomam
iniciativas sobre os seus próprios problemas para além das organizações
parlamentares clássicas, politicas ou sindicais. E mesmo que ao ciclo da
direita laboral se siga o ciclo dos liberais de esquerda tudo parece indicar
que, assembleia , acção direta, rejeição dos políticos profissionais ou sindicais
são ideais que vão permeando e vão tendo resultados práticos . Se a CNT
consegue manter no seu seio as posições exclusoras, expulsões e confrontos e
difunde claramente os seus acordos poderá apresentar-se com força como a opção
que históricamente foi: a organização dos de baixo para estabelecer a igualdade
e a liberdade na sociedade. Todos devemos fazer um esforço nesse sentido. Não
há outro!
Nota : Esta entrevista realizou-se antes da expulsão do Sov de Chiclana
LM
Algumas das figuras historicamente mais conhecidas do anarquismo internacional eram GEÓGRAFOS: Elisé Reclus, refugiado da Comuna de Paris e impulsionador em Portugal da 1ª Internacional, do anarquismo e do sindicalismo revolucionário, nos fins do séc.19, foi geógrafo e o autor da obra geográfica magistral “A Terra e o Homem” – da qual foi editada há uns anos, por um conhecido diário português actual, um pequeno resumo. Também Kropotkin, outra figura do Anarquismo histórico internacional, foi geógrafo, tendo inclusive algumas montanhas do território russo o seu nome. Porém a importância da GEOGRAFIA -e sobretudo da geografia social, económica e ambiental - HOJE liga-se à necessidade da acção de ligação emergente da nossa actividade aos meios sociais mais explorados e dominados pelo capitalismo e pelo Estado.
À escala de cada cidade ou vila, de cada região, de cada província como de cada país e grupo de países, temos a necessidade de ter uma visão de conjunto, rápida, clara, elucidativa e evolutiva da situação das populações trabalhadoras , empregadas e desempregadas, da localização das principais concentrações laborais, das fábricas, empresas, serviços públicos, dos bairros, das zonas degradadas, dos locais de habitação, de passagem, de lazer , das principais fontes de contaminação ambiental das populações , das zonas “azuis” de habitação e luxo da burguesia, etc., etc.
Tal é a função da GEOGRAFIA SOCIAL , ECONÓMICA e AMBIENTAL - que não será avatar apenas de GEÓGRAFOS profissionais especializados – embora eles possam ajudar SE estiverem IMPLICADOS na nossa actividade. A NET e o Google Earth, com as suas coberturas espaciais de vastas zonas do globo terrestre, às vezes em indiscreto pormenor, promovidos pela “National Geographic” e ao serviço das CIA.s e outras polícias planetárias com vista ao controlo mundial das populações e das regiões, podem ser utilizadas por qualquer pessoa interessada – pelo menos por agora!... Mas o bom e velho hábito de leitura e utilização das várias cartas topográficas, mapas geográficos, plantas urbanas, mapas turísticos, etc., “equipando-os” com a informação e localizações que se vão descobrindo no terreno, são algo imprescindível numa actividade que se pretende militante e continuada. Assim faziam os velhos militantes anarquistas e anarco-sindicalistas para irem registando a evolução da sua implantação local e regional, ou para “baterem o terreno” das suas actividades de propaganda, agitação e organização , assim o deveremos fazer hoje.
Um núcleo de militantes local, um comité regional, uma secção empresarial, um comité popular, não passam sem tal instrumento – que logicamente, pela sua importância táctica, não é algo que deva ser acessível a pessoas fora da organização e constitui um instrumento de trabalho evolutivo, em cada reunião organizativa, em cada decisão de acção colectiva, em cada avaliação da situação da nossa implantação nos meios laborais e populares.
Numa situação em que nem sequer somos ainda aquilo a que os companheiros brasileiros chamam de “sindicato de porta de fábrica”, num momento em que temos princípios e tácticas GERAIS (acção directa, anti-representativismo, etc.) mas não temos ainda uma estratégia comum, tácticas, métodos, etc., para assumirmos perseguir consequentemente na prática os nossos objectivos estatutários de construção de uma confederação sindical revolucionária, à semelhança da velha CGT portuguesa ou mesmo da actual CNT espanhola, rumo ao COMUNISMO LIBERTÁRIO – que passam pela implantação local e regional nos meios laborais e populares, hoje na maioria “controlados”pela cgtp-in e pelo pcp (e conviria muito analisarmos o porquê da sua contínua implantação nalgumas regiões), numa situação em que proclamamos a nossa vontade de LUTARMOS AO LADO DXS DEMAIS TRABALHADORAS/ES, classe contra classe, na situação social miserável em que Troikas, FMIs , patronato, governos e “concertações sociais” e seus “concertantes” TODOS, estão a meter a maioria da população de que fazemos parte, independentemente da filiação sindical ou partidária dxs exploradxs e dominadxs (mas não do GRAU DE ENVOLVIMENTO DESSA FILIAÇÂO…) é-nos portanto imprescindível este instrumento prático-teórico que faz parte da GEOGRAFIA: o MAPA MONOGRÁFICO LOCAL/REGIONAL e o seu completamento permanente.
O bom conhecimento da geografia-social (e ambiental) da cidade ou/e da região onde vivemos deverá servir na actualidade para algo mais do que realizarmos trajectos históricos –embora eles possam ser sempre úteis na formação de militantes e associadxs. Deverá servir sobretudo para nos ajudar de uma forma gráfica a planear, programar e observar: a nossa ACÇÃO ACTUAL, as nossas limitações e pontos fortes (porque os há!..), tanto no que já fazemos neste momento como no que nos falta e é mais prioritário fazer, em termos de implantação local e regional.
AVANTE NA IMPLANTAÇÃO LOCAL E REGIONAL ANARCO-SINDICALISTA!
AVANTE NA ORGANIZAÇÃO DA AIT-SP!
AVANTE NA RESISTÊNCIA SOCIAL! VIVA O COMUNISMO LIBERTÁRIO!
Porto,Fev.2012 Pego Negro
Círculos de Estudos Sociais Libertários
“ Se o que não sabe é um ignorante, o que sabe e não passa aquilo que sabe aos outros é um criminoso…” ( Bertold Brecht)
1- Objectivos :
A abordagem, o estudo e o aprofundamento EM GRUPO das ideias e experiências libertárias do passado e do presente
2- A quem se destinam:
Às pessoas desejosas de iniciar , de aprofundar ou de intercambiar com outras os seus conhecimentos sobre as ideias e práticas libertárias
3- Metodologia geral e alguns métodos concretos :
Parte-se do principio de que as pessoas EM PEQUENO GRUPO - por exemplo, entre 5 e 10 pessoas - podem mais facilmente vencer dificuldades de leitura e interpretação dos textos de apoio ou das obras a ler, do que se o fizerem de forma isolada apenas.
Mas parte-se também da ideia da necessidade de combinar a leitura individual (em sua casa, nos intervalos entre as reuniões - semanais, pelo menos - do CÍRCULO ) com a análise e discussão das interpretações individuais em grupo.
Portanto o Círculo de Estudos pressupõe :
o estabelecimento CONJUNTO E CONSENSUAL de um "PLANO DE ESTUDOS", com:
1-um ARQUIVO de todos os textos (os "originais") relativos a cada assunto:
2-um PROGRAMA TEMPORAL (o quê na 1" sessão, o quê na 2, etc... ) ;
3- uma ORDEM LÓGICA (partindo do mais simples para o mais complexo)
a existência de um conjunto de textos de apoio relativos às questões que o grupo deseja abordar, sejam fotocópias de alguns capítulos de diversas obras ou artigos, seja uma obra específica
a distribuição de fotocópias desses textos ou pequenos capítulos por CADA UMA das pessoas PARA A SESSÃO SEGUINTE de forma a que cada um/a a possa anotar e rabiscar à sua vontade;
a leitura do texto EM VOZ ALTA , NO CIRCULO ,parágrafo a paragráfo, por cada pessoa à vez (ou por quem leia melhor - se o objectivo não for tanto o habituar as pessoas a ler ou a saber colocar a voz e ler intervenções em público como o de relembrar a todos o que leram - ou não...- em casa ).
a expressão de CADA pessoa à roda e em círculo sobre as suas impressões, dúvidas e anotações do texto que leu- e sobre as interpretações anteriores de outr@s companbeir@s;
o respeito pela VEZ de cada pessoa a exprimir-se, e o encorajamento das restantes a que o faça sem que outra/s a interrompa/m nem se estabeleçam diálogos que monopolizem a palavra_que é de todos e de cada um e não só de um ou dois elementos;
o respeito pelo TEMPO limitado de cada sessão (entre hora e meia e duas horas, geralmente) de forma a que TODAS e CADA PESSOA possa ter tempo para se exprimir - apelando-se sempre a cada uma a que procure ser DIRECTA, SUCINTA e NÃO SE DESVIAR do parágrafo ou do tema em discussão;
tomar notas -para que alguém não se esqueça de algo que ouviu e não concorda ou que achou mais interessante e sobre o qual quer intervir - quando chegar a sua vez - toma notas no seu bloco ou caderno;
4- Local das sessões do círculo
É de todo desaconselhável um local como um café muito frequentado e barulhento ou uma sala onde se ouve a televisão ou o rádio em altos berros! No Verão poder-se-á optar por um parque ou local ao ar livre longe de barulho...Mas a vantagem da metodologia dos CIRCULOS DE ESTUDOS* é que permite realizar-se na sala de uma casa particular ou numa sala de uma associação ou de uma escola, cedida para o efeito ( "em nome da cultura e do saber"... ), num horário em que esta esteja sem outra utilização, uma ou duas vezes na semana.
5 -Os custos e despesas de um círculo
São mínimos e têm sobretudo a haver com as fotocópias dos texto participante - que deverão ser, divididos por todos de acordo com as possibilidades económicas de cada um/a . Os livros que não seja possível adquirir emprestados de uma biblioteca local ou de amigos deverão ser adquiridos para o circulo ( que iniciará assim uma pequena biblioteca libertária ), se todos estiverem de acordo em comparticipar na sua compra. Põe-se o problema de ONDE eles deverão ficar, se afinal são propriedade colectiva do Circulo e não de um ou outro membro e isso claro que põe também a questão da necessidade de encontrar um espaço para SEDE do CiRCULO... ou de se inserir numa associação local oferecendo a possibilidade de aí criar além de uma "SECÇÃO CULTURAL" OU "SECÇÃO DE AUTO-APRENDIZAGEM" uma pequena biblioteca - nem que seja de fotocópias encadernadas.
A não ser em alguns tempos e situações de ilegalização e de clandestinidade, a experiência mostra que sempre que os livros e materiais de um Círculo ficam guardados na casa de alguém, há sempre o risco de a eles se poder vir a não ter acesso - ou por esse alguém se indisponibilizar ( doença, desinteresse, etc.), ou por não ser um local acessível a todos os membros, ou por alguém da família os achar interessantes e levar para ler quando deles precisamos , etc., etc.
Mas nos primeiros tempos de existência do círculo, isso poderá ter várias soluções provisórias.
6- Quem é o "animador" do círculo, quais às suas funções?
Regra geral ®"animador/a" ( ou animadores/as) do círculo é quem o começa por criar, com a gente conhecida e interessada, quem pretende ou divulgar e difundir as ideias ou avançar no conhecimento delas, juntamente cora outras pessoas. As suas funções poderão no entanto.resiimir-sesó ao annnque do círculo se a maior parte da gente que dele faz parte dele puder prescindir.
De facto, uma vez iniciado e criado o hábito funcionamepoderhaver necessidade de "animador". Todos são "animadores"! A sua necessidade existe apenas sempre que o círculo inicial dê origem a vários círculos - e daí que, tod@s @s que participem no círculo, sejam potenciais animadores de outros círculos.., se entretanto as pessoas não tiverem descoberto entre si afinidades ( de carácter, de inclinações, de interesse num dos muito terrenos de acção libertária ) que lhes permita, se o desejarem, constituir um grupo especule() de actividades para além ue ler e discutir.
7- O passo seguinte
Aqui haverá que lembrar que as razões da vinda das pessoas a um círculo podem ser muito diferentes! Um circulo não é constituído por pessoas que já fizeram a sua opção pelas ideias libertárias mas por pessoas interessadas em CONHECER essas ideias. E as razões desse interesse podem ser muito diferentes... ! O círculo não é parte de nenhuma organização ou grupo - excepto a dos próprios círculos! A opção por formar um grupo libertário ou por se ligar a uma estrutura libertária já existente é com cada um/a e só deve ser tratado pelas pessoas que hajam descoberto entre si as relações de confiança para passar ( ou não, isso é com elas...) ao passo seguinte. Há que contar que a motivação de algumas pessoas pode Ser desde a "pura curiosidade meramente intelectual" até à tentativa de se introduzir nos meios libertários por razões não propriamente de solidariedade..., e o melhor antídoto para isso é que cada pessoa não confunda o círculo com aquilo que ele não é, e que procure fora do círculo conhecer bem as pessoas com as quais à primeira vista tem algumas "afinidades".
8- O alcance dos círculos
Um círculo, funcionando como parte de uma associação ou ateneu ou sendo algo mais informal, pode também organizar debates mais abertos ( em cafés, bares, livrarias, etc...) , sessões culturais, etc... , funcionando ele próprio como um pólo de divulgação libertária. Há decerto formas variadissímas de combinar o papel do círculo com outras variantes. Contudo haverá que não esquecer que é sobretudo nos meios populares e operários mais carenciados que as ideias libertárias mais poderão frutificar e assumir o seu papel revolucionário social. Em todo o caso, deveremos ter em conta que haverá sempre o perigo de um circulo se transformar num núcleo de "anarquismo de salã" se nos restringirmos ao pessoal estudante e de "classe média”.... Uma outra forma de evitar isto é tentar desenvolver círculos e sessões de discussão pública ( com vídeos, por exemplo ) em associações de bairros populares . Há que tentar, pelo menos!
Bom /ns Círculo/s
J.P.
Nota : O método dos Círculos de Estudos não é algo especificamente libertário.É contudo um bom metódo para a auto-aprendizagem. O seu criador, o sueco Olssen deu com ele origem a todo um movimento -bastante popular na Suécia –de auto-aprendizagem adaptável a qualquer matéria
1 – A/s ASSEMBLEIA/s POPULAR/es do PORTO declara/m–se contra todas as formas de TIRANIA,DOMINAÇÃO e EXPLORAÇÃO, sejam do Estado, do Capital Financeiro e do Patronato, seja nacional, regional ou global;
2- A/s ASSEMBLEIA/s POPULAR/es do PORTO afirma/m-se como uma forma possível de CONTRA-PODER popular que possa constituir um entrave à continuação por mais tempo da MENTIRA ORGANIZADA em “Razão de Estado”, às falsas promessas dos políticos profissionais, à CORRUPÇÃO, organizadas pelas “máfias” dos “poderosos” dos poderes políticos e do dinheiro;
3- NÃO são objectivos da/s ASSEMBLEIA/s POPULAR/es do PORTO , nem a TOMADA DO PODER POLÍTICO DO ESTADO , nem a ESTATIZAÇÃO DA ECONOMIA – estatizando mas não socializando o Capital privado e transformando-o em CAPITALISMO DE ESTADO, monopolista ou não - mas SIM : 1º- o ESVAZIAMENTO do poder do Estado através da acção dos CONTRA-PODERES POPULARES , 2º- A SOCIALIZAÇÃO e AUTO-GESTÃO DIRECTA das empresas e de todos os meios de produção (fábricas, serviços públicos e a terra das grandes propriedades fundiárias ) pelxs próprixs trabalhadoras/es que nelas trabalham;
4- A/s ASSEMBLEIA/s POPULAR/es do PORTO contrapõe/m-se à REPRESENTOCRACIA do Estado e dos APARELHOS POLÍTICOS PARTIDÁRIOS que constituem autênticas FARSAS de “DEMOCRACIA” , que colocam nas mãos de uns/umas quantxs privilegiadxs o poder de decidir em nome da população em geral aquilo em que cabe a todo o povo participar e decidir : a definição dos nossos direitos e deveres uns para com os outros, , a melhoria ou limitação da nossa qualidade de vida, quem deve e quem não deve fazer “sacrifícios” em tempos de “crise”e a limitação ou alargamento dos nossos “direitos, liberdades e garantias” conquistadas por gerações de trabalhadores e pelo povo com as suas lutas e com o 25 de Abril de 1974;
5- A/s ASSEMBLEIA/s POPULAR/es do PORTO, em consequência, opõe/m ao representativismo dos profissionais da política , a autêntica democracia e contra-poder popular, a DEMOCRACIA DIRECTA ASSEMBLEÁRIA, respeitando o direito à diferença das minorias populares discordantes;
6- A/s ASSEMBLEIA/s POPULAR/es do PORTO não rejeita/m a necessidade de eleger para tarefas especiais, tanto delegadxs como grupos de trabalho especiais, em actividades, problemas e áreas específicas onde as necessidades das populações, e sobretudo dos seus grupos mais fragilizados, estão postos em causa. Mas tais “delegados” e/ou elementos dos “grupos de trabalho”deverão aceitar ser revogáveis a todo o momento pela Assembleia Popular, serão voluntárixs e não gozarão de quaisquer privilégios e/ou compensações materiais por isso;
7- A/s ASSEMBLEIA/s POPULAR/es do PORTO defende/m a necessidade de a população trabalhadora, empregada e desempregada (mais necessitada e alvo PRINCIPAL das medidas antisociais dos governos a pretexto de “combater a crise”) se ORGANIZAR de forma AUTÓNOMA relativamente a quaisquer partidos políticos e órgãos de poder político estatal ou do poder económico (capitalista), coordenando-se com outras assembleias populares que surjam, aos níveis REGIONAL, NACIONAL e INTERNACIONAL, a fim de tornar a sua acção mais justa e eficaz ;
8-A/s ASSEMBLEIA/s POPULAR/es do PORTO, criará/criarão os órgãos organizativos e grupos especiais de voluntárixs que ela/s próprias deliberarem por maioria absoluta, no sentido de estender/em aos vários campos da luta social (lutas de trabalhadoras/es, de moradores, de utentes dos serviços públicos, de imigrantes e minorias étnicas alvos de descriminação, de utilização e ocupação de espaços urbanos e terrenos desocupados, etc.) e às várias localidades, o sistema geral autogestionário das ASSEMBLEIAS POPULARES SOBERANAS;
9- A/s ASSEMBLEIA/s POPULAR/es do PORTO rejeita/m a colaboração com quaisquer organismos e pessoas individuais que teórica ou praticamente defendam a exploração capitalista, a dominação do Estado sobre a sociedade, a destruição da Natureza e do ambiente, as discriminações étnicas, o racismo, o sexismo, o nacionalismo, a violência do Estado na protecção dos privilegiados de uma minoria da sociedade contra a maioria da população;
10- A/s ASSEMBLEIA/s POPULAR/es do PORTO defende/m , encoraja/m e aplica/m no seu seio os princípios de APOIO MÚTUO, AUTOGESTÃO, COOPERAÇÃO POPULAR, DESCENTRALIZAÇÃO DA ACÇÃO, IGUALDADE E COMPLEMENTARIEDADE DAS DIFERENÇAS NO MEIO POPULAR, ANTI-CAPITALISMO, ANTI-ELITISMO, ANTIAUTORITARISMO,FEDERALISMO POPULAR;
11- A/s ASSEMBLEIA/s POPULAR/es do PORTO declara/m-se portanto contrária/s a quaisquer tentativas de manipulação e corrupção dos seus princípios, objectivos e programas de acção por quaisquer grupos ou partidos políticos , religiões ou grupos económicos capitalistas, opondo-lhes o seu próprio funcionamento como exemplo e alternativa possível para a construção de uma sociedade humana verdadeiramente LIVRE, SOLIDÁRIA e ECOLÓGICA;
12- A/s ASSEMBLEIA/s POPULAR/es do PORTO solidariza/m-se no terreno prático (e não apenas no das meras intenções) com todas as justas lutas populares contra a exploração do Capital e a opressão do Estado, pela Terra, pela Liberdade, pela Igualdade e pela Dignidade, promovendo e apoiando a RESISTÊNCIA SOCIAL ORGANIZADA e a ACÇÃO DIRECTA POPULAR contra todos os usos e abusos dos “poderes” contra o povo;
13-A/s ASSEMBLEIA/s POPULAR/es do PORTO conta/m com a participação activa e solidária de todos os indivíduos, grupos e colectivos que se identifiquem com os princípios e objectivos deste manifesto;
14- A/s ASSEMBLEIA/s POPULAR/es do PORTO só reconhecem um limite aos desejos e sonhos de LIBERDADE, IGUALDADE e DIGNIDADE dos povos: o Céu! …E mesmo ele, se foi transformado em quinta privada dxs “Poderosos” e privilegiadxs da banca, do Capital em geral e do Estado…TEREMOS DE IR AO ASSALTO DELE! TEREMOS DE IR AO ASSALTO DO CÉU se é cada vez mais o INFERNO da carência, da miséria e da sub-vida o que nos vais cabendo na actual dita “civilização”!
VIVAM AS ASSEMBLEIAS POPULARES! VIVA A AUTOGESTÃO GENERALIZADA! VIVA A DIGNIDADE!
Bandeira Negra